A Visão Sistêmica da Saúde Mental João Lourenço

O ser humano é um ser sistêmico. Dividi-lo aos pedaços foi necessário para sua análise, porém suas partes formam um conjunto coeso, interativo e indivisível na sua funcionalidade. Algumas palavras utilizadas para designar esta condição acabaram desgastadas não só pelo uso, mas acabaram denotando um cunho quase que místico a essa constatação científica. Assim, pois deixamos de utilizar “visão integral” ou “visão holística” para utilizar o termo Visão Sistêmica pela qual fazemos alusão ao uso dos conhecimentos da biologia, da psicologia, da sociologia e da espiritualidade para uma observação clínica positivista da saúde mental.


E o foco dessa observação não é rotular seres humanos com diagnósticos guiados por manuais algorítmicos, institucionais e oficializados tais como o DSM-V que inspirou o CID-X, o código internacional de doenças. A meta é a compreensão do ser e do existir deste humano que está expressando sua forma muito própria de sentir, pensar e agir consigo mesmo e com seus semelhantes.

Longe de romancear os transtornos mentais, “vitimizando” pacientes e familiares, a meta é investigar o sofrimento mental humano propondo-lhe uma coordenação de cuidados para dar-lhe um fim através da “cura que for possível” para todo o seu sistema bio-psico-social-espiritual. E cura aqui não significa ausência total de dificuldades, sintomáticas ou não, e muito menos enquadrá-lo no ritmo “normal” de qualquer proposta ideológica de grupos maniqueístas, sejam científicos ou leigos.

Nesta visão sistêmica, todos os casos clínicos, desde uma simples reação emocional neurótica até os muitos casos de doenças psicóticas processuais e degenerativas, o indivíduo torna-se consciente e responsável pelo seu bem viver utilizando instrumentos e recebendo instruções de dedicados instrutores para lidar com suas dificuldades e limitações. Aprendem a viver e deixar viver, assumindo o direito de reconhecer suas dificuldades e responder por elas com honestidade, mente aberta e boa vontade, propondo-se inclusive a auxiliar quem ainda está no torvelinho inicial de qualquer padecimento mental.